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terça-feira, 19 de junho de 2012

Um casarão que sumiu

Casarão centenário, que um dia abrigou uma escola chamada Florence, da família do desenhista francês Hercules Florence que radicou-se no Brasil após participar de uma expedição pelo interior de vários estados brasileiros no início do século retrasado. Foi ao chão em janeiro para dar lugar a um medonho empreendimento comercial


quinta-feira, 14 de junho de 2012

São Paulo, a cidade dos sonhos.



São Paulo é fruto dos sonhos. Para cá vieram muitos em busca de uma vida melhor. Há mais de um século, ferrovias ligaram o interior à capital, para o trem seguir até o porto de Santos, exportando café e trazendo a riqueza de alguns barões da cidade. São Paulo crescia. Décadas mais tarde, sonharam alguns com uma cidade maior, mais moderna, mais rica. Rios foram retificados, canalizados, escondidos. Córregos sumiram pra debaixo das ruas e foram esquecidos. Lembrados apenas durante as enchentes, no movimento natural de suas águas. Mas em horas como essas, poucos sem lembram disso.

E o sonho da cidade maior tomou os espaços. As ruas cortavam as chácaras, as obras tomavam as ruas, projetos foram implantados e a cidade mudou. Na luta pela terra urbana, as ruas foram invadidas pelos carros, símbolo de poder e de status. O modelo importado do sonho americano tornou-se o pesadelo dos bondes e o coletivo foi perdendo lugar para o transporte individual. Elétrico, não poluente, o bonde deu lugar ao automóvel poluidor. Mas num tempo em que fazer fumaça com cigarro era atraente e glamoroso como no cinema holiudiano, os carros e seus escapamentos não eram vistos como vilões. Pelos cinemas de rua, que existiam em muitos bairros, chegavam vilões e mocinhos com novidades da moda, da cultura, do mundo. Sonhavam as mulheres com seus galãs preferidos, joias, penteados, vestidos. Sonhavam os homens com suas musas provocantes.

Para o sonho ficar ainda melhor, JK decidiu que a indústria do automóvel deveria vir aqui para ficar. E ela veio. E ficou. Trouxe com ela o tal progresso, o emprego, o crescimento econômico. Mas como sonhos não são necessariamente planejamentos minuciosos, para muitos se tornou pesadelo. O operário produzia carros, mas não tinha onde morar. Acordando cedo, sem sonho, trabalhadores construíam pontes, viadutos, túneis e rodovias. 
E por falta de tempo pra sonhar, foram morar nas favelas que cresciam dentro, ou junto da cidade. O motorista sonhava com largas avenidas para trafegar. E ruas foram alargadas, asfaltadas, impermeabilizando a cidade, sobrecarregando os poucos rios cujos leitos restaram de papo pro ar.  Espaços verdes sumiam em nome do progresso viário. Aquelas linhas de bonde ficaram definitivamente pra trás. Fáceis de serem implantadas, fáceis de serem desativadas.

Tempos depois a população precisava chegar em casa mais rápido, pois foi morando cada vez mais longe do centro. Por crescer sempre e sempre desordenadamente, São Paulo sonhou com um trem subterrâneo. E o sonho tornou-se real, lentamente. Tão lento quanto a incompetência de vários governos que ainda correm atrás, ou fingem que correm, da tão sonhada mobilidade urbana. E o bonde, tão mais barato de se fazer e operar nem sonha voltar pra cidade...

A cidade de hoje ainda sonha, e muito. Mas quem vive de sonho não enche a barriga. E entre a fantasia e a realidade, homens de negócios preferem a segunda opção. Construtores, incorporadores, engenheiros, arquitetos, demolidores não precisam mais sonhar. Acharam o homem de seus sonhos, e fizeram-no prefeito. Perfeito, bem fuleiro, conivente, ladino, irresponsável, na medida certa de seus devaneios. E bem acordados, constroem a cidade que sonharam. Uma cidade toda deles. Enriquecem assim, às custas da gente. Pagamos cada centavo desse pesadelo que se tornou a cidade. Pagamos no trânsito parado, ou violento. Pagamos morrendo na poluição, na falta de verde. Na falta recorrente de segurança, debaixo da sombra do prédio irregular que a corrupção permitiu subir sobre nossas cabeças. Pagamos pela falta de educação, democracia, cidadania, inteligência. E o sonho da casa própria, mola propulsora de muita insanidade econômica, alimenta a máquina da perversidade urbana. Favelas não se urbanizam mais, se incendeiam. Jornais, lacaios da propaganda imobiliária, se calam. E lucram também. Os bairros centrais, saturados, não suportam mais prédios, porém mais prédios são construídos. Um novo edifício que sobe ao lado de sua casa, acaba com seu sono, com seu bairro, com sua história. Se trocassem parte desses sonhos egoístas por planejamento de verdade para todos, a cidade teria uma realidade bem diferente. Está mais do que na hora de realizarmos a cidade que sonhamos. Humana, saudável, democrática, bonita, segura. Sem a selvageria do mercado imobiliário, dessa fúria predatória que esta arrasando uma enorme cidade.

domingo, 10 de junho de 2012

O corretor de imóveis que governou SP


A especulação imobiliária atinge níveis inimagináveis em São Paulo, o corretor imobiliário Gilberto Kassab, devolve os favores aos seus financiadores de campanha sem qualquer critério passando por cima da lei: “Os títulos permitem à iniciativa privada construir acima da metragem estabelecida na lei de zoneamento”.

A prefeitura não estabelece critérios para essa compactação populacional. Não se importa em melhorar as precárias estruturas existentes e autoriza indiscriminadamente as obras das construtoras, acentuando ainda mais esse processo neste período de apagar das luzes da administração de Gilberto Kassab.  ”O novo estoque residencial ainda representa 59% dos 3,11 milhões de m² edificados em toda a capital paulista em 2011 — foram 443 prédios no ano passado, com 38.149 apartamentos, segundo a Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp)”.

Os empreendimentos priorizam uma faixa específica de consumidores, proibitivos para a classe C, tornando os bairros centrais, locais com maior oferta de empregos, escolas, postos de saúde, transporte e segurança, inacessíveis para o cidadão de renda menor. Ou seja, não há preocupação com a mescla social, descaracterizando por completo os bairros atingidos, tornando esses locais eleitos pela especulação imobiliária, um oásis de riqueza dentro da cidade.

Dessa forma, os novos moradores que chegam a esses empreendimentos, com seus automóveis particulares, convênios médicos, instalando-se em condomínios com segurança privada, não trazem muitas queixas à prefeitura. Eles dependem bem menos dos aparelhos municipais. O pobre por sua vez, cada vez mais distante do centro, perde tempo nos trens e no metrô em colapso e pouco comove a opinião pública elitizada com seus apelos por segurança, hospitais, escolas. Essa é a cidade preconizada pelo consórcio Serra/Kassab, em mais uma frente de batalha no seu desenfreado processo higienista.

Edificações antigas vem abaixo, prédios históricos como o casarão da rua João Moura, vão para a caçamba passando por cima de liminar da justiça. Famílias inteiras são retiradas de favelas em inúmeros incêndios suspeitos. Não são exigidas as necessárias contra-partidas para minimizar o impacto dessas obras. “A dúvida de especialistas, porém, é se a chegada de novos prédios vai se reverter em melhorias para a população, o que não ocorreu nos primeiros 17 anos da Operação Urbana Água Branca. O corredor comercial que se consolidou na última década na Avenida Francisco Matarazzo ainda não se reverteu em obras e benefícios viários e urbanísticos, como previa o projeto original de 1995.”
Não vejo a oposição mobilizada e com força suficiente para tentar barrar as infames operações urbanas, que tem na Nova Luz, um símbolo de desrespeito e agressividade contra cidadãos paulistanos e seu patrimônio arquitetônico.

Texto publicado no site Viomundo em 17 de abril de 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Caso Aref

Ministério Público de São Paulo tenta provar um dos maiores escândalos da gestão Kassab


Hussain Aref Saab, ex-diretor do APROV, é investigado por corrupção, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro por ter acumulado mais de 125 imóveis durante os sete anos em que foi diretor do Departamento de Aprovação de Edificações, entre 2005 e 2012 e conseguido o impressionante patrimônio de mais de 50 milhões de reais. Em sua defesa, ele alega que não cometeu irregularidades alguma e comprou os imóveis com a renda de estacionamentos da família. Porém, até então, a mágica de tamanha multiplicação de patrimônio ainda não foi provada. Aref e seus advogados terão que contar uma história convincente, para que a opinião pública acredite que ele é um verdadeiro prodígio dos negócios, afinal, muitos gostariam de saber qual a fórmula para comprar mais de uma centena de imóveis de alto padrão, tendo como rendimento o salário de funcionário público. Gilberto Kassab, que afastou Aref assim que a denúncia tornou-se pública, também precisa explicar a todos, como um de seus diretores passou tantos anos a frente de um departamento tão importante sem levantar suspeitas.

Aref cometeu uma série de malfeitorias pela cidade de São Paulo. 
Ele era responsável pela liberação de obras. Em sigilo, uma servidora graduada declarou ao Ministério Público que Aref liberou centenas de pedidos mediante propina  para autorização de prédios. Outras pessoas já foram ouvidas confirmando as declarações e acrescentando outras denúncias ao caso. As liberações envolvem desde áreas de preservação ambiental, áreas contaminadas, e condomínios em vias públicas como o da Alameda Ministro Rocha Azevedo, onde uma travessa nos Jardins, considerada pública pela área jurídica da administração municipal, se transformou em área privada e em garagem de um condomínio de alto padrão. Durante décadas, a Travessa das Constelações foi a via de entrada para uma pequena vila de casas na altura do número 915 da alameda. Os imóveis foram adquiridos pela Concivil. Em 2004, a empresa conseguiu junto ao Aprov a autorização para erguer duas torres no local. A travessa deu lugar a um bulevar entre os dois prédios e a dois andares de garagem no subsolo. Em outra ação, Aref, permitiu a construção de um edifício de alto padrão pela Lindencorp Empreendimentos Ltda., na rua Tutóia. Esta ação foi ajuizada na 8ª Vara da Fazenda Pública.



Segundo o MP, um dos esquemas do servidor era feito através das guias para pagamento de tributos. De responsabilidade das construtoras, as guias eram fraudadas na autenticação bancária e o dinheiro não era recolhido aos cofres públicos. Segundo apurado pelo MP, o prejuízo causado com o esquema pode ultrapassar mais R$ 70 milhões. As investigações reúnem documentos de caráter sigiloso. Segundo o Ministério Público, outras frentes de investigação podem ser abertas, dependendo da necessidade de apuração de fatos conexos. Na câmara do vereadores porém, as sessões plenárias vazias e comissões idem, dificultam o trabalho de vereadores interessados em esclarecer e apurar denúncias sobre enriquecimento ilícito, corrupção, improbidade e formação de quadrilha.Hussain Aref Saab

A máfia dos imóveis, que vem destruindo diversos bairros em São Paulo, fazendo da cidade um inferno, insegura e quase intransitável reúne muita força junto a diversos parlamentares. O prefeito Gilberto Kassab e a família do governador Geraldo Alckmin também foram beneficiados com a liberação do Aprov. A empresa R&K  Engenharia então de propriedade de Kassab e do ex-deputado estadual Rodrigo Garcia (atual secretario estadual de Desenvolvimento Social) teve um prédio anistiado pelo Aprov, em 2008. Na época foram denunciadas irregularidades pelo vereador Aurélio Miguel (PR). Esse caso envolve até sumiço de documentos. No processo n.º 0163622/2010, a R&K pleiteava a Lei da Anistia (quando há irregularidades a serem anistiadas) para regularizar uma reforma no prédio da rua Leandro Dupré. Em 2006, o pedido foi indeferido. Dois anos depois, em 2008, Aref reconsiderou o caso, quando o prazo para recurso é de 60 dias. O cunhado do governador Geraldo Alckmin, Adhemar Ribeiro, conseguiu a ampliação do prédio Wall Street Empreendimentos, na Faria Lima, sem a devida contrapartida da outorga onerosa.

Enfim, trata-se de um caso gravíssimo em que a população de São Paulo deve unir-se e cobrar punição dos envolvidos, fortalecer a atuação dos vereadores que pretendem investigar o caso instalando uma CPI e apoiar o Ministério Público, para que todo esse trabalho não seja em vão. Mas se nada for feito, pouco vai resolver reclamar depois da falta de planejamento urbano, do caos no trânsito, bradar contra a corrupção, pedir mais parques e áreas verdes , sonhar com uma cidade melhor, mais humana e democrática, pois se esta máfia vencer mais essa batalha, terão a certeza de que o esquema vale cada real investido, e mais cedo ou mais tarde, um novo Aref  ocupará um cargo importante para atender às necessidades da quadrilha. A hora é agora!!!




sábado, 2 de junho de 2012

Ser contra a verticalização é...



Ser a favor da qualidade de vida
Ser a favor de uma cidade com planejamento urbano
Ser a favor de um trânsito menos caótico
Ser a favor da mobilidade urbana
Ser a favor da preservação da nossa memória arquitetônica
Ser a favor de mais áreas verdes
Ser a favor de mais a segurança pública

Ser contra a especulação imobiliária é...

Ser a favor do cumprimento do Plano Diretor Estratégico
Ser a favor de uma cidade para todos (e não para poucos)
Ser a favor de aluguéis mais justos
Ser a favor da lisura na administração pública
Ser a favor da democratização do solo urbano
Ser a favor de bairros com mais calor humano
Ser a favor do acesso à moradia

sexta-feira, 1 de junho de 2012

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Uma discussão necessária

Este blog tem como objetivo discutir o modelo atual de verticalização dos bairros da cidade. Uma discussão necessária para todos os moradores de São Paulo que se preocupam com qualidade de vida e com o urbanismo praticado nesta cidade. A Vila Pompéia, bairro antes tão agradável, já dá sinais de que não comporta mais tantos edifícios. O modelo de verticalização adotado, que antes era a solução para o problema da carência de moradia, tornou-se apenas a ferramenta preferida da especulação imobiliária. Não há democratização do solo urbano. Os novos empreendimentos na região oferecem ao consumidor opções de custo elevado, não cumprindo função social alguma. Essa prática inflaciona o mercado, aumenta aluguéis, obrigando antigos moradores a ficarem cada vez mais distantes de seu bairro de origem, de seus locais de trabalho e estudo. Condomínios verticais isolam os moradores, afeta o comércio local pois os novos empreendimentos priorizam consumidores que tem no carro particular seu principal meio de transporte. Um outro fenômeno recorrente em nossa cidade é o da construção de shoppings centers, que aliado à verticalização colabora com o enfraquecimento do comércio de rua. O novo morador circula menos pelo bairro deixando-o mais deserto e inseguro. Outro efeito perverso da especulação imobiliária nota-se no trânsito caótico. Surgem mais prédios oferecendo mais vagas em seus subsolos. Falta segurança aos bairros, surgem ilhas de sombra e calor, impermeabilizam o solo, contaminam-se lençóis freáticos. São fatores preocupantes que não aparecem nos folhetos promocionais dos novos empreendimentos.

Nós moradores não observamos plano algum para minimizar esses impactos. Esse processo trabalha em conluio com a atual Prefeitura de São Paulo que concede alvarás para que o bairro se desfigure totalmente, sem que a administração pública faça sua parte em prol dos moradores. Somos apenas pagadores de impostos sem acesso à discussão do processo. A ganância e a falta de preocupação com os cidadãos por parte das autoridades municipais, que não limitam ou regulamentam a atividade das construtoras (na verdade dão todo apoio e facilidade a elas
), esta promovendo uma grande e indesejável transformação na região. 

Opor-se a isso, é tentar preservar um bairro e a qualidade de vida de todos os seus moradores. Participe, dê sua opinião e contribua para uma Vila Pompéia melhor, e por uma cidade mais inteligente.